sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

O Batismo do Etíope Eunuco e de Jesus



Rev. Ronald Hanko


Continuando nosso estudo do modo do batismo, desejamos olhar para o batismo do eunuco etíope (Atos 8) e de Jesus (Mt. 3; Marcos 1). Esses são geralmente tomados como sendo os exemplos mais claros na Escritura de batismo por imersão.

O batismo do eunuco. É geralmente assumido que as palavras “desceram ambos à água” e “saíram da água” em Atos 8:38, 39 descrevem o batismo do eunuco e o fato que ele deve ter sido imerso. Existem dois problemas com esta visão.

Um problema são as preposições usadas – “à” (eis, no grego) e “da” (ek) não implicam imersão de forma alguma. A palavra à no Novo Testamento é traduzida de muitas formas diferentes, incluindo:2 “at” [em, no, por] (20 vezes), “in” [dentro, em, no] (131), “into” [em, entre] (571), “to” [para] (282), “toward” [em direção a, para] (32), e “unto” [até, para] (208). Isso pode ser verificado com uma boa concordância. A palavra da é traduzida variadamente: “from” [de, por] (182 vezes), “up from” [de dentro de] (2), e “out of” [da, fora de] (131). Substituir essas traduções diferentes nos dois versículos mostrará imediatamente que diferença isso faz. O ponto é que essas duas palavras não estão descrevendo o batismo de forma alguma, mas o que aconteceu imediatamente antes e após o batismo.

As duas preposições usadas em Atos 8 obviamente não podem estar descrevendo o batismo, visto que são aplicadas tanto ao eunuco como a Filipe. Se elas estão descrevendo um batismo por imersão, então Filipe também batizou a si mesmo por imersão. Ele também “desceu” e “saiu” da água. Ou as palavras descrevem o batismo por imersão de ambos – Filipe batizando a si mesmo, bem como ao eunuco – ou não descrevem nenhum batismo de forma alguma.

Finalmente, e mais importante, o batismo de Jesus, quando observado à luz da Escritura, não pode ter sido por imersão. Olhemos para alguns fatos sobre o batismo de Jesus dados em Mateus 3 e Marcos 1.

Em Marcos 1 as mesmas palavras gregas de Atos 8 são usadas. Em Mateus 3:16 uma preposição diferente é usada, a palavra grega apo. Essa palavra é traduzida como “from” [de, por] 372 vezes e como “out of” [da, fora de] somente 27 vezes.

Há uma consideração adicional na história do batismo de Jesus. Não pode ser ignorado que ele foi batizado aos 30 anos de idade (Lucas 3:23), por um sacerdote (João o Batista era um sacerdote como seu pai Zacarias, Lucas 1:5, 13), e com água. No momento do seu batismo, Jesus disse de todas essas coisas: “Assim nos convém cumprir toda a justiça” (Mt. 3:15).

Que Jesus cumpriu “toda a justiça” com seu batismo pode se referir apenas ao fato que ele cumpriu as justas demandas da lei. Qual lei? A lei para a consagração de um sacerdote. Um sacerdote deveria ser consagrado por outro sacerdote (Ex. 29:9; Nm. 25:13),3 e consagrado por aspersão com água (Nm. 8:6, 7).4

Ao cumprir a lei, portanto, Cristo não poderia ter sido batizado de outra forma senão por aspersão, ou estaria quebrando a lei, e não cumprindo a mesma. O batismo de Cristo não é prova, portanto, que a imersão é o modo apropriado de batismo, mas exatamente o oposto. Imploramos que aqueles que crêem de outra forma considerem isso cuidadosamente.





Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto1
Fonte: Doctrine according to Godliness, Ronald Hanko, Reformed Free Publishing Association, p. 261-62.








Um Templo ou um Teatro?



Charles H. Spurgeon

Trecho do sermão pregado na manhã do dia do Senhor de 7 de outubro de 1888,
no Metropolitan Tabernacle, Newington, Inglaterra.


Os homens parecem nos dizer: "Não há qualquer utilidade em seguirmos o velho método, arrebatando um aqui e outro ali da grande multidão. Queremos um método mais eficaz. Esperar até que as pessoas sejam nascidas de novo e se tornem seguidores de Cristo é um processo demorado. Vamos abolir a separação que existe entre os regenerados e os não-regenerados. Venham à igreja, todos vocês, convertidos ou não-convertidos. Vocês têm bons desejos e boas resoluções: isto é suficiente; não se preocupem com mais nada. É verdade que vocês não crêem no evangelho, mas nós também não cremos nele. Se vocês crêem em alguma coisa, venham. Se vocês não crêem em nada, não se preocupem; a 'dúvida sincera' de vocês é muito melhor do que a fé".

Talvez o leitor diga: "Mas ninguém fala desta maneira".

É provável que eles não usem esta linguagem, porem este é o verdadeiro significado do cristianismo de nossos dias. Esta é a tendência de nossa época. Posso justificar a afirmação abrangente que acabei de fazer, utilizando a atitude de certos pastores que estão traindo astuciosamente nosso sagrado evangelho sob o pretexto de adaptá-lo a esta época progressista.

O novo método consiste em incorporar o mundo à igreja e, deste modo, incluir grandes áreas em seus limites. Por meio de apresentações dramatizadas, os pastores fazem com que as casas de oração se assemelhem a teatros; transformam o culto em shows musicais e os sermões, em arengas políticas ou ensaios filosóficos. Na verdade, eles transformam o templo em teatro e os servos de Deus, em atores cujo objetivo é entreter os homens. Não é verdade que o Dia do Senhor está se tornando, cada vez mais, um dia de recreação e de ociosidade; e a Casa do Senhor, um templo pagão cheio de ídolos ou um clube social onde existe mais entusiasmo por divertimento do que o zelo de Deus?

Ai de mim! Os limites estão destruídos, e as paredes, arrasadas; e para muitas pessoas não existe igreja nenhuma, exceto aquela que é uma parte do mundo; e nenhum Deus, exceto aquela força desconhecida por meio da qual operam as forças da natureza. Não me demorarei mais falando a respeito desta proposta tão deplorável.


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Fontes:
Vi tradução em Palavra Prudente
Vi a integra do sermão em inglês e os créditos e data em Surgeon.org

quarta-feira, 12 de junho de 2013

Batismo e circuncisão



Rev. Ronald Hanko



Um dos argumentos para o batismo infantil ou de famílias é a correspondência entre circuncisão e batismo. Isso não é fácil de ver, visto que os sinais externos parecem ser inteiramente diferentes um do outro.

Deve ser apontado, contudo, que o que referimos como circuncisão e batismo são apenas os sinais; e até onde diz respeito o significado desses sinais, eles são exatamente o mesmo. A realidade da circuncisão é exatamente a mesma realidade do batismo.

A circuncisão real e o batismo real são a própria salvação, isto é, a remoção do pecado pelo sacrifício de Cristo na cruz. No caso da circuncisão, isso é claro a partir de Deuteronômio 30:62 e Colossenses 2:113, e no caso do batismo a partir de Romanos 6:1-64 e 1 Pedro 3:215. Os sinais são exatamente os mesmos até onde diz respeito a realidade espiritual, e embora os sinais em si possam parecer muito diferentes, eles simbolizam a mesma verdade espiritual.

Dizer que os dois são completamente diferentes é cair no erro do dispensacionalismo e dizer que existem dois caminhos diferentes de salvação, um no Antigo e outro no Novo Testamento. A maioria dos Batistas tentam evitar isso insistindo, a despeito de Deuteronômio 30:6 e Colossenses 2:11, que a circuncisão no Antigo Testamento não era um sinal de salvação, mas apenas certo tipo de marca para identificar os membros da nação de Israel.

Isso Paulo rejeita em Romanos 2:286, onde ele insiste que a circuncisão exterior não é a coisa real de forma alguma, e que ser um judeu exteriormente não é nada: a única circuncisão que importa é aquela do coração, e o único judeu é aquele que é interiormente. Todos aqueles que desejam manter que existe algo especial sobre ser um descendente natural de Abraão deveriam ler esse versículo.

Por que, então, existe uma diferença entre os sinais exteriores da circuncisão e do batismo? Isso pode ser visto à luz da principal diferença entre o Antigo e Novo Testamento. No Antigo Testamento todas aquelas coisas que apontavam para Cristo envolviam o derramamento de sangue (Hb. 9:22), mas uma vez que o sangue de Cristo foi derramado, não poderia mais haver nenhum derramamento de sangue (Hb. 10:12), nem mesmo na circuncisão.

Essa é a única diferença real entre os sinais da circuncisão e do batismo. Em significado e realidade eles são exatamente a mesma coisa. A própria Escritura os identifica em Colossenses 2:11, 12. Talvez porque essa é uma longa sentença em dois versículos, somos inclinados a perder o ponto que Paulo está fazendo. Ele diz ali que ser circuncidado é ser batizado. Esse é um dos pontos principais de Colossenses 2. Falando aos crentes gentios, Paulo lhes diz que eles têm todas as coisas em Cristo (vv. 10, 11), incluindo a circuncisão! Eles não têm carência de nada em Cristo, em quem habita a plenitude da divindade corporalmente (v. 9).

O fato que a circuncisão e o batismo não somente têm o mesmo significado, mas são também a mesma coisa até onde diz respeito as suas realidades espirituais, é a razão pela qual os sinais exteriores devem ser administrados (sob o único e eterno pacto de Deus) ao povo de Deus, incluindo os infantes, tanto no Antigo como no Novo Testamento.





Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto1
Fonte: Doctrine according to Godliness, Ronald Hanko, Reformed Free Publishing Association, p. 261-62.